sexta-feira, 12 de maio de 2023

SAPATOS NA FARDA DO CEMB

 Nos tempos em que era estudante, do CEMB (Colégio Estadual Murilo Braga), não era permitido a entrada de alunos sem farda. Claro que todos os alunos sempre procuravam comprar a farda, afinal de contas estudar no CEMB era motivo de orgulho (década de 60-70 do século XX) perante a comunidade. Os pais menos favorecidos, financeiramente, faziam grande esforço para conseguir a farda e manter os filhos na escola. Olhando as fardas, nos colégios públicos atuais, é comum as pessoas acharem que não era grande coisa e não havia grande dificuldade para se conseguir a farda. Só que na realidade eram duas fardas: uma farda de gala, só utilizadas em dias festivos (geralmente dias cívicos) e outra que era a farda utilizada no dia a dia das aulas.

Tipo de sapato usado
Nesta época, todos os alunos usavam sapatos pretos do Fabricante Vulcabrás. Tinha couro de Vaqueta, era macio e altamente resistente. Quando o solado ia acabando era só trocar. Quando era engraxado (dava um brilho muito bom) e ficava com a aparência de novo!
Pouco tempo depois começou a aparecer um tal de Vulcalite, do mesmo fabricante do sapato anterior, feito de material sintético e de custo bem mais barato. Era feito totalmente de material sintético, não precisava engraxar e  por ser sintético podia ser lavado. Passou a ser bem mais vendido,  porém dava um chulé daqueles! O mesmo esquentava, suava os pés, as meias ficavam úmidas do suor e fediam a chulé pro ficarem abafadas.

O acidente
Embora eu estudasse durante o dia, era comum de vez em quando se ir ao colégio a noite para utilizar a biblioteca. Em uma dessas ocasiões, indo para o colégio, aconteceu um acidente. Uma das casas que ficava na Praça Hunaldo Cardoso estava em reforma e todo o material (entulho) retirado estava jogado a frente da casa. Uma das peças (cumeeira) esta jogada atravessada em um dos morros de areia, em posição de gangorra. Justamente quando eu ia passando, um dos colegas que estava do lado oposto pressionou a peça para baixo e soltou! A peça que estava em gangorra, ao cair de volta, acertou de cheio o meu dedão da perna esquerda. Não senti nenhuma dor e apenas saiu sangue por debaixo da unha. Não doeu na hora, por que no dia seguinte estava inflamado, não pude calçar os sapatos e antes de ir para o colégio tive de passar no Hospital Rodrigues Dórea (não existe mais), para arrancar a unha.

Hospital Rodrigues Dórea (foi demolido)

O uso dos sapatos
Como não podia calçar o sapato, no pé esquerdo, fui para a aula usando sandálias de couro. Só que as normas eram rígidas e a pessoa não podia entrar no colégio sem está com a farda completa!. Os meus colegas sempre me questionando que poderia correr o risco de ser suspenso e que Dona Maria Pereira (a diretora da época) não deixaria assistir as aulas sem os sapatos.

Ao passar pelo porteiro, ele me interpelou que não podia entrar sem está calçado os sapatos! Eu mostrei que tinha arrancado (extraído) uma das unhas e não poderia calçar os sapatos. Ele deixou bem claro que um pé poderia ficar sem os sapatos, mas teria que usar o sapato no outro pé! Falei que não iria ficar usando um pé com sapato e outro sem, por que ficaria parecendo que estava aleijado e que isso faria mal a coluna. O mesmo me fez a seguinte proposta: você pode entrar sem os sapatos, mas quando Dona Maria (a diretora) perguntasse por que estava sem usar os sapatos e como conseguiu entrar, sem os sapatos, eu deveria dizer que entrei sem que ele tivesse visto? Aceitei e falei que ficasse despreocupado.

Diretora Maria Pereira,
mas o nome verdadeiro era
Maria da Conceição
Durante o recreio, uma das inspetoras de ala, me interceptou e deu o recado que a diretora queria falar comigo! Nem precisei ir até a diretoria, bastou que eu desse meia volta, três passos e já estava bem de frente a temida Dona Maria Pereira. Ela foi logo questionando: é por que você está sem usar os sapatos? Que respondi: estou com a unha do dedão, do pé esquerdo, arrancada e dedão está inflamado. Ela não pensou duas vezes: vem um pé com sapato e outro de sandálias? Mas como sempre fui insistente: mas Dona Maria! Um pé com sandália e outro com sapato? Eu fico parecendo aleijando e mancando! Sem falar, que isso faz mal a coluna, isso foi o professor de ciência que disse na sala de aula! Se ensina (ensina-se) uma coisa e se faz outra? Dona Maria olhou, ficou calada durante alguns segundos (eu olhando para ela sem piscar) até sair o veredito: tudo bem, você vem sem os sapatos enquanto o dedo estiver doente, mas se depois que o pé estiver bom e você for pego sem os sapatos, eu te mando para casa de suspensão, entendeu? Que respondi: entendi sim senhora, muito obrigado!

Nesta tomada podemos ver o Hospital Rodrigues Dórea e ao fundo o
Colégio Estadual Murilo Braga (CEMB)
Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)
http://carlos-geografia.blogspot.com.br

Texto original : OS CEBOLEIROS

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