Foto que mostra o Colégio Estadual Murilo Braga no período que estudava. |
Quando entrei para estudar no Colégio Estadual Murilo Braga (CEMB) ainda existia a figura da Admissão (último ano). A Admissão era uma forma de escolher os alunos que deveriam ocupar as vagas do chamado Ginasial. Estudei o chamado Primário na Escola do Rotary Club (professora Jozeíza), Escola Santa Terezinha (professora Dona Helena), as duas localizadas no Beco Novo (Rua Coronel Sebrão), e por dois meses na Escola de Maria de Zizi, localizada na Rua das Flores - Itabaiana -SE.
Quando estava estudando o chamado Primário (no quarto ano) foi ofertado por uma destas escolas particulares (da Capital), a oportunidade de se fazer admissão e se conseguir uma vaga no Ginasial.
Da aprovação
Fui aprovado na admissão e estranhamente o Colégio recusou a minha matricula alegando que não havia vagas! Neste ano tinha acabado uma reforma de ampliação no número de salas e consequentemente a ampliação de vagas para as matriculas.
Em decorrência da não aceitação da minha matricula, no colégio, escrevi uma carta para a Secretaria Estadual de Educação.
Da efetivação da matricula
Quando do recebimento da resposta, da carta, peguei os documentos e me encaminhei para realizar a devida matricula acompanhado de minha mãe (menor não assina matricula). Fui enviado diretamente para a presença da diretora (na época Dona Maria Pereira). De frente a diretora fui questionado: então você é o Antônio Carlos?
Foi-me passado o documento para preenchimento da matricula, onde o nome dos responsáveis era de duas linhas, uma para o genitor e outra para a genitora. Como não tinha percebido a existência das duas linhas, coloquei o nome de ambos na primeira linha. A diretora simplesmente me arrancou o papel das minhas mãos , amassou, jogou no lixo e exclamou: deixe que eu mesmo preencha.
Início das aulas
Naquela época era normal, no primeiro dia de aula, se receber os alunos em frente ao colégio, eram passados informes e se hasteava a Bandeira Nacional do Brasil acompanhado da cantoria do respectivo Hino Nacional do Brasil.
Antes de se começar, o hasteamento da bandeira, um dos informes é que tinham perdido o Registro (Certidão de Nascimento) do um dos alunos (perderam o minha certidão de nascimento). Identifiquei-me e me foi solicitado que no dia seguinte providenciasse outra cópia. Só que estranhamente esse fato, de perda de minha Certidão de Nascimento, ocorreu pelos anos seguintes até a oitava série!!!!! E por que só perdiam a minha?
Minha primeira turma
Os meus colegas, da primeira turma, eram o mais variado possíveis em tamanho, idade e local de moradia. Os três alunos mais jovens da sala era eu, Jorge Santana e Siqueira. Mas existiam alunos com dezesseis anos de idade na mesma sala! A grande maioria era residente na cidade, mas tinham alguns alunos que moravam em povoados, como era o caso de Matias (Rio das Pedras). Segundo os fofoqueiros da época, essas turmas diversificadas, eram onde se colocavam os alunos ditos problemáticos!!!
Nesta época as regras eram rígidas. Os alunos não podiam assistir às aulas sem farda e sem os respectivos livros das disciplinas. Por falta da farda o aluno já era impedido de entrar no colégio e por falta de livros era solicitado que se retirasse da sala de aula. Claro que o aluno só era retirado, da sala de aula, quando o professor percebia que o mesmo estava sem o livro. O aluno era convidado a comparecer até a diretoria e ficava tomando um chá de cadeira (esperando passar o horário), em pé, em uma sala ao lado da diretoria (ficava na parte da frente do colégio, primeira ala, a direita de quem estava entrando no colégio) até que se passasse o horário correspondente (no final do dia esta sala ficava parecendo uma lixeira!!!). Neste primeiro ano fui retirado da sala, aula de Francês, por dezoito vezes.
A reprovação
No final do ano fui reprovado nesta primeira turma, não por questão de não saber o assunto ou mesmo por não ter o livro de francês. A professora de francês (professora Marleide) deixou bem claro que não reprovaria um aluno por falta, não ter o livro e como conseguir ter a média mínima exigida (nesta época já era 5,0), não fui reprovado nesta disciplina. Como vinha de uma escola onde a qualidade de ensino era dos melhores e o conteúdo do quarto ano primário era justamente o conteúdo que estava vendo na primeira série ginasial, ficava fácil se responder as avaliações.
Fui reprovado na disciplina de ciência (professor Tuíca). O mesmo passou um trabalho para ser feito em casa e uma das questões que ele não considerou eu contestei. Ele mandou que se desenhassem os dois tipos de eclipses existentes. Embora o desenho fosse uma cópia exata do que tinha no livro (na realidade fiz uma cópia por cima e foi recomendado pelo próprio professor), o mesmo disse que estava um pouco diferente e eu então questionei: mas pelos menos tenho direito a metade da questão. Ele nem quis conversa e anulou toda a questão!! Como eu precisava tirar cinco para ser aprovado, tinha tirado quatro no trabalho, a não aceitação de se dar sequer um ponto pela questão, fiquei reprovado!! Percebi que o mesmo queria por que queria que eu ficasse reprovado e me reprovou!!!
Estudando na Universidade (UFS)
Mas continuei estudando até chegar a universidade e fiz justamente um curso para ser professor (Licenciatura Plena - Geografia). Durante os estudos fui descobrindo por que certas coisas aconteciam, como por exemplo: eram comuns, os administradores, colocarem os alunos que consideravam problemáticos em uma única turma para tornarem mais sossegadas as turmas com os alunos que consideravam comportados!! (os fofoqueiros estavam falando a verdade). E fiquei pensando qual o critério que foi utilizado para se colocar alunos de dez anos juntamente com alunos com idade bem mais elevada. Por que eu ainda fico imaginando qual foi o critério utilizado para se colocar Jorge Santana e o Siqueira em uma sala de alunos considerados problemáticos? Durante o ano letivo nunca vi eles responderem mal a alguém, quebrarem alguma coisa no colégio, nunca foram agressivos com os colegas e eram de uma calma impressionante.
O sumiço da matricula
Quando estudava a oitava série, infelizmente, fiquei órfão de pai. Tinha apenas quinze anos de idade por ocasião do falecimento do meu pai e pensei em desistir de estudar no final do ano. Mas Tereza Cristina, usando da habilidade de professora, me convenceu a continuar estudando e fiz a matricula no primeiro ano do segundo grau.
Mas não conseguia assistir as aulas normalmente, tinha de trabalhar e nos dias de feiras (trabalhava vendendo na feira) e era comum eu me atrasar ou mesmo faltar as aulas. Fui orientado a estudar a noite (péssima ideia). Solicitei a transferência da turma da tarde para uma turma da noite. Colocaram dificuldades e mais dificuldades, mas fiquei insistindo por várias vezes. O professor Rivas (era o vice-diretor da época), de tanto me ver indo até a secretaria, me interpelou: Oh Carlinhos! O que você vem fazer todos os dias aqui na diretoria? Respondi: estou tentando me transferir para o turno da noite, pois preciso trabalhar e me mandam voltar todos os dias para esperar a resposta da diretora. O Professor Rivas chamou uma das funcionárias e solicitou as cadernetas e ali mesmo no balcão fez a transferência para a noite. O mesmo argumentou que não via por que tanta dificuldade em realizar a transferência em se tratando de um aluno conhecido e os motivos da transferência!
Com a aprovação fui refazer a matrícula para o ano seguinte (Curso Técnico de Contabilidade) e foi que descobrir que não constava nenhuma matricula do ano anterior e me foi questionado se realmente eu tinha me matriculado! Chamei o Professor Jaime, de Matemática, com quem fiz a matricula no início do ano anterior e o mesmo me confirmou a efetivação da minha matricula. Mais uma vez o professor Rivas resolveu o problema. Solicitou todas as cadernetas da turma (estavam todas encerradas), verificou se existiam as notas correspondentes e como os professores estavam reunidos bem em frente a secretaria (a parte diretiva já ficava na parte dos fundos colégio), ele solicitou confirmação, junto aos professores da turma, ter estudado todo o ano letivo. Com resposta positiva, o professor Rivas mandou que refizessem minha matrícula do primeiro ano, efetivassem minha matricula para o ano seguinte e felizmente conseguir terminar o segundo grau sem que me solicitassem mais algum documento perdido!!!
Antônio Carlos Vieira
Licenciatura Plena - Geografia (UFS)
www.carlosgeografia.com.br
Texto original : OS CEBOLEIROS
Nenhum comentário:
Postar um comentário