sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Estados Unidos: educação miserável

É natural se pensar que os Estados Unidos, maior potência capitalista do mundo, possuam boas condições materiais para a sua população, inclusive a mais carente. Uma lenda. O capitalismo não se importa com nada que não seja os seus próprios lucros. Prova disso é o sistema público educacional dos Estados Unidos, que é altamente defasado.

Em primeiro lugar, é complexo falar de educação pública igualitária nos Estados Unidos. Na educação básica, o financiamento educacional é distrital. Ou seja, as escolas que estão em regiões de maior renda são muito mais beneficiadas do que as que estão nas regiões periféricas. Dessa forma, se mantêm os privilégios dos mais ricos. 

Ao irmos para o ensino superior, a cena é ainda pior, uma vez que não existe educação pública nesse nível. A maioria das universidades “públicas” é de baixa qualidade e estaduais, além de ser cobrada mensalidades dos estudantes. Esses valores são ainda mais altos para alunos de outros estados do país, uma vez que partem da premissa que os habitantes de cada estado já pagam parte do valor da mensalidade com os impostos estaduais. Por isso, é comum que os pais estadunidenses façam poupanças para os filhos, desde o nascimento, para que possam ingressar no ensino superior.

Para piorar esse cenário caótico, os dados sobre a educação estadunidense demonstram total decadência do sistema educacional. Em relatório gerado em 2009, que compara o rendimento dos estudantes de países industrializado, as crianças americanas estão em 14º lugar em leitura, 17º em ciências e em 25º em matemática. Sendo os Estados Unidos a maior potência econômica do mundo, esses resultados são pífios. Essa mesma pesquisa demonstrou que esse é um fator estrutural. Segundo os dados, 25% dos professores de biologia das escolas públicas do país acreditavam que dinossauros e seres humanos coabitaram no planeta terra e mais de 70% dos docentes de biologia do ensino médio ensinam aos seus alunos apenas a teoria do criacionismo. Isso encontra eco com uma pesquisa, também de 2009, do Instituto Gallup, que mostra que 42% dos estadunidenses acreditam que Deus criou os seres humanos a menos de 10 mil anos. Professores despreparados e alunos inaptos: esse é o cenário educacional do “sonho americano”.

O déficit educacional

Bem, à verdade, a educação nos Estados Unidos faz parte do gigantesco aparato da especulação financeira do capitalismo. O ensino superior, por exemplo, é uma verdadeira “mina de ouro” para os burgueses. Ele é privatizado em quase toda a sua totalidade. Uma licenciatura, por exemplo, custa algo em torno de U$80 mil. Como poucas pessoas têm condições de arcar com esse elevado custo, todos os estudantes formam-se com dívidas gigantescas que, com os juros exorbitantes, levarão, em média, 15 anos para serem pagas.

Por todo esse período, os alunos acabam se tornando dependentes dos bancos e, muitas vezes, são obrigados a fazer novos empréstimos para pagar os anteriores e assim sobreviver. Uma verdadeira “bola de neve”. A “escravidão” do ex-aluno com o sistema financeiro se completa com a total liberdade que os bancos possuem em vender e comprar as dívidas dos alunos a seu bel prazer, sem o consentimento ou sequer o conhecimento do devedor. Dessa forma, em um dia, se deve dinheiro a um banco com uma determinada taxa de juros e, no dia seguinte, pode-se passar a dever a outro banco, com nova e mais elevada taxa de juro. É a orgia financeira do capitalismo. O resultado é que entre 1999 e 2017, a dívida total dos estudantes estadunidenses chegou a marca dos U$1,5 trilhões, em um crescimento de 500%. Ou seja, nos Estados Unidos, apenas os estudantes devem mais que o valor do Produto Interno Bruto (PIB) da Austrália ou três vezes o valor do PIB da Argentina.

Tudo isso passa por uma intensa campanha ideológica, nas mais diversas instâncias. Não por acaso, há a exaltação desmedida das universidades particulares dos Estados Unidos como Harvard, Yale ou MIT. Não explicam, porém, que o desenvolvimento das pesquisas dos centros universitários é rigidamente controlado pela burguesia. As pesquisas que não atendem aos critérios estabelecidos, simplesmente não recebem financiamento. Em segundo lugar, é muito comum nos seriados e animações estadunidenses, que rodam todo o mundo, a completa banalização das universidades públicas. Aqueles que necessitam estudar nessas instituições são sempre retratados como “incapazes” e as instituições em si como ruins. Uma verdadeira propaganda ideológica contra a educação pública.

O tortuoso caminho da educação brasileira

No Brasil, o governo golpista de Michel Temer segue tirando todos os direitos da população. Com relação à educação, o golpe foi hábil e virtualmente silencioso.

Primeiro, aprovou-se a PEC55, que limita o teto dos gastos públicos do governo, mesmo em áreas básicas como a saúde e a educação. Em seguida, foi aprovada a Reforma do Ensino Médio, onde, dentre vários absurdos, foi aprovado o aumento da carga em mais de 400 horas, sem que fosse garantido qualquer investimento. Se os gastos com a educação já não eram suficientes com uma carga horária menor, agora, com o aumento, será ainda mais miserável.

Enquanto isso, a imprensa fortalece a propaganda em torno das Parcerias Público-Privadas (PPP) para o financiamento estudantil, principalmente a partir dos grandes bancos, como o Itaú ou o Bradesco. A Fundação Lemman, do milionário Jorge Paulo Lemman, dono da Ambev, está entrando forte na educação básica, principalmente a partir das PPP nas escolas em âmbito municipal. A intenção é uma só: precarizar a educação a tal ponto que será “justificável” uma proposta de total privatização, conforme forem apresentados os “bons resultados” das parcerias entre capital e educação. Na prática, a educação brasileira, um dos últimos campos que o capital ainda não esticou todos os seus tentáculos, está se tornando idêntica a dos Estados Unidos.

É hora do movimento estudantil e dos professores, bem como toda a sociedade, se organizar para impedir que esse processo seja levado a cabo. A resistência deve ser diária, a exemplo das ocupações secundaristas e universitárias de 2016. É preciso lutar agora, antes que nossa educação se torne uma cópia piorada do que já é nos Estados Unidos. Por uma educação pública, gratuita e de qualidade.

Texto original: LUTA PELO SOCIALISMO

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