Antes que me acusem de ufanista, defensor de algum patriotismo cafona, já adianto de antemão que não acho o nosso país uma maravilha, nem concordo com muitas coisas que por aí estão. Também não sou xenófobo, curto cultura estrangeira tanto quanto a nossa, e não acho que ser brasileiro me torna melhor ou pior do que ninguém.
Mas se tem algo que me incomoda é como, principalmente elementos da “classe mérdia” (com R mesmo pra não confundir com quem é de classe média e não merece ser generalizado com esses tipinhos), não só crêem que vivemos no “pior país do mundo”, como estão sempre a se referir a todo e qualquer problema como se sua raiz fosse o fato de aqui ser Brasil, e nós sermos brasileiros.
Tem corrupção? “É a porra do Brasil”. Tem impunidade? “Só podia ser Brasil mesmo”. Educação de péssima qualidade? “Coisa do Bostil”. Tem Feriado? “Brasileiro é tudo vagabundo mesmo”. Tem Carnaval? “É por isso que o Brasil não vai pra frente”. Não ganhamos a copa? “País de incompetentes”. Ganhamos a copa? “Compraram o título, cambada de corrupto”.
É certo que nosso país tem problemas, mas daí achar que o resto do planeta é um paraíso, principalmente quando falamos da Europa, é típico daquele ditado “a grama do vizinho é mais verde”. Hoje com a internet e mecanismos de pesquisa, descobrimos em rankings decentes que já estivemos pior, e que (pasmem!) em determinadas situações há dezenas de países piores do que o nosso em várias áreas. Isso não é uma desculpa pra se justificar os nossos problemas, mas sim uma amostra que estamos longe de ser o “pior país do mundo”, como tantos querem crer por aí.
Uma das grandes perguntas que me faço é porque, se aqui é tão ruim, os incomodados não vão embora de uma vez? Sim, eu sei que isso pode parecer muito “Ame-ou ou Deixe-o”, jargão da ditadura militar, mas naquela época o exílio era a única opção pra escapar da morte certa. Hoje em dia qualquer um pode ficar ou partir conforme sua vontade. E se aqui está tão ruim, e nunca vai melhorar, porque “o brasileiro é o pior povo do mundo”, então por que ficar? Todos os demais países não são melhores?
“Ah eu quero lutar para melhorar as coisas aqui”, alguns podem dizer. Então VALE A PENA LUTAR pelas coisas aqui, hein? Então isso não pode ser uma bosta tão grande se você acha que merece melhorar. Se é assim, qual o sentido de dizer que tudo aqui é uma bosta, se você realmente ama esse país e quer viver nele? Não faz o menor sentido.
Mas se tem algo que me incomoda é como, principalmente elementos da “classe mérdia” (com R mesmo pra não confundir com quem é de classe média e não merece ser generalizado com esses tipinhos), não só crêem que vivemos no “pior país do mundo”, como estão sempre a se referir a todo e qualquer problema como se sua raiz fosse o fato de aqui ser Brasil, e nós sermos brasileiros.
Tem corrupção? “É a porra do Brasil”. Tem impunidade? “Só podia ser Brasil mesmo”. Educação de péssima qualidade? “Coisa do Bostil”. Tem Feriado? “Brasileiro é tudo vagabundo mesmo”. Tem Carnaval? “É por isso que o Brasil não vai pra frente”. Não ganhamos a copa? “País de incompetentes”. Ganhamos a copa? “Compraram o título, cambada de corrupto”.
É certo que nosso país tem problemas, mas daí achar que o resto do planeta é um paraíso, principalmente quando falamos da Europa, é típico daquele ditado “a grama do vizinho é mais verde”. Hoje com a internet e mecanismos de pesquisa, descobrimos em rankings decentes que já estivemos pior, e que (pasmem!) em determinadas situações há dezenas de países piores do que o nosso em várias áreas. Isso não é uma desculpa pra se justificar os nossos problemas, mas sim uma amostra que estamos longe de ser o “pior país do mundo”, como tantos querem crer por aí.
Uma das grandes perguntas que me faço é porque, se aqui é tão ruim, os incomodados não vão embora de uma vez? Sim, eu sei que isso pode parecer muito “Ame-ou ou Deixe-o”, jargão da ditadura militar, mas naquela época o exílio era a única opção pra escapar da morte certa. Hoje em dia qualquer um pode ficar ou partir conforme sua vontade. E se aqui está tão ruim, e nunca vai melhorar, porque “o brasileiro é o pior povo do mundo”, então por que ficar? Todos os demais países não são melhores?
“Ah eu quero lutar para melhorar as coisas aqui”, alguns podem dizer. Então VALE A PENA LUTAR pelas coisas aqui, hein? Então isso não pode ser uma bosta tão grande se você acha que merece melhorar. Se é assim, qual o sentido de dizer que tudo aqui é uma bosta, se você realmente ama esse país e quer viver nele? Não faz o menor sentido.
Talvez toda a confusão seja que algumas pessoas não conseguem separar o conceito de país de governo. Pra alguns, é a mesma coisa. Como se algum partido ou governo pudessem representar o que é um país. Essa é uma diferença essencial com os norte-americanos, por exemplo, que são muito patriotas e não confundem essas coisas. Os reaças americanos podem odiar o Obama, e 50% da população falar mal do seu governo, mas você não os verá falando mal dos Estados Unidos. Mesmo no que sua pátria está errada, em atacar e explorar outros povos, eles se justificam, eles acreditam no seu “destino manifesto” enquanto nação.
Aqui, o que temos é o velho “complexo de vira-lata”, o brasileiro parece que se odeia (meus amigos estrangeiros vivem comentando isso comigo, eles acham muito estranho). Isso não é um assunto novo. Já ouço falar desse complexo desde criancinha, lá nos anos 80. A classe mérdia não odeia nosso país de hoje, não é algo necessariamente ligado ao seu desprezo pelo atual governo. É algo de profundas raízes históricas e culturais.
Usando novamente os EUA como exemplo, os colonos que iam para lá muitas vezes era gente perseguida, principalmente por causa da sua prática religiosa na Grã Bretanha. Eles iam para as colônias já sabendo que iriam viver lá pelo resto das suas vidas, sem quaisquer planos de voltar. Estavam indo com claros projetos de construir uma nova nação. Não por acaso embora a colonização tenha sido tardia, só começado em meados do século XVII, no século XVIII já declaravam sua independência.
Já para o Brasil, os colonos portugueses vinham para cá com claros projetos de enriquecer. Ganhar dinheiro com o pau-brasil, depois com a cana de açúcar, depois com o ouro, e se mandar para casa, para a metrópole, para a Europa onde era lugar de gente civilizada. Os colonos portugueses odiavam tudo por aqui, o clima, os índios, a cultura local, a falta de civilização, enfim, eles não conseguiam ver aqui como um país.
O problema é que a maioria desses incompetentes não conseguia. Eles ficavam por aqui, e passavam para os seus filhos, e os filhos dos seus filhos, o sonho de um dia enriquecer e finalmente voltar para a Metrópole. O Brasil, este sempre foi uma porcaria, um lugar para se trabalhar e ganhar o que desse, mas não para viver. Assim, os filhos dos abastados estudavam na Europa, quando casavam passavam lua de mel na Europa, e quando se aposentassem, iam passear pela Europa.
Mudam-se os tempos, e os destinos hoje são mais amplos, incluindo Miami. Mas o sentimento é o mesmo. Continuam a detestar o clima, o povo, os hábitos, a cultura local. Eles continuam não se sentindo brasileiros. No seu íntimo, o grande sonho é ainda deixar esse lugar, ou que ele fosse adotado como uma colônia extra-oficial de alguma metrópole utopicamente perfeita dentro da sua concepção, no caso, muitas vezes os EUA.
Mas assim como seus antepassados, a classe mérdia não consegue enriquecer fora daqui. E por isso não vai embora, só fica a nos azucrinar em como esse país é ruim, como esse povo é ruim, como o problema é ser Brasil e ser brasileiro. E os seus filhos e filhos dos seus filhos, aprendem essa lição, direto da família, ou da mídia que foi construída por eles, para não nos deixar esquecer essa lição.
Claro que esse sentimento parece muito pior nos últimos tempos. Por duas coisas: a primeira é que a grande mídia, que antes era alinhada com o governo central, colocava panos quentes nos problemas nacionais. Afinal descontentamento com o país leva a descontentamento com o governo. Agora que estão na oposição, é fácil ver a lógica: quanto mais as pessoas odiarem o país mais odiarão quem o governa (como se as duas coisas fossem uma só, esse é o maior absurdo de toda essa questão). Então a percepção que os grandes meios de comunicação e seus articulistas dão é essa.
A segunda razão do aumento do ódio contra o Brasil é que a classe mérdia perdeu a maior compensação de que tinha por viver nessa terra de “gente inculta, feia, incivilizada”. Que era justamente ser de classe mérdia. Eles eram “superiores” pois tinham um dinheirinho a mais, não se misturavam com “essa gentalha”. Eram apenas 30 milhões de brasileiros, até o ano 2002. Agora são 90 milhões a compartilhar do mesmo status. A ir pra praia no fim de semana e congestionar o tráfego. A pegar avião. A entrar pra universidade. A lotar o Shopping Center. E o pior, em até ir pra Disney, a ir pra Miami. Tem “pobre” em tudo que é lugar.
Como escreveu a Danuza Leão, "qual a graça de ir pra Paris ou Nova Iorque se o seu zelador também pode?" Pois é. Qual a graça de comer salmão e beber vinho importado se hoje em dia isso é acessível? Qual a graça de ver a Copa se não precisa viajar pra isso e ela acontece bem aqui?
Aqui, o que temos é o velho “complexo de vira-lata”, o brasileiro parece que se odeia (meus amigos estrangeiros vivem comentando isso comigo, eles acham muito estranho). Isso não é um assunto novo. Já ouço falar desse complexo desde criancinha, lá nos anos 80. A classe mérdia não odeia nosso país de hoje, não é algo necessariamente ligado ao seu desprezo pelo atual governo. É algo de profundas raízes históricas e culturais.
Usando novamente os EUA como exemplo, os colonos que iam para lá muitas vezes era gente perseguida, principalmente por causa da sua prática religiosa na Grã Bretanha. Eles iam para as colônias já sabendo que iriam viver lá pelo resto das suas vidas, sem quaisquer planos de voltar. Estavam indo com claros projetos de construir uma nova nação. Não por acaso embora a colonização tenha sido tardia, só começado em meados do século XVII, no século XVIII já declaravam sua independência.
Já para o Brasil, os colonos portugueses vinham para cá com claros projetos de enriquecer. Ganhar dinheiro com o pau-brasil, depois com a cana de açúcar, depois com o ouro, e se mandar para casa, para a metrópole, para a Europa onde era lugar de gente civilizada. Os colonos portugueses odiavam tudo por aqui, o clima, os índios, a cultura local, a falta de civilização, enfim, eles não conseguiam ver aqui como um país.
O problema é que a maioria desses incompetentes não conseguia. Eles ficavam por aqui, e passavam para os seus filhos, e os filhos dos seus filhos, o sonho de um dia enriquecer e finalmente voltar para a Metrópole. O Brasil, este sempre foi uma porcaria, um lugar para se trabalhar e ganhar o que desse, mas não para viver. Assim, os filhos dos abastados estudavam na Europa, quando casavam passavam lua de mel na Europa, e quando se aposentassem, iam passear pela Europa.
Mudam-se os tempos, e os destinos hoje são mais amplos, incluindo Miami. Mas o sentimento é o mesmo. Continuam a detestar o clima, o povo, os hábitos, a cultura local. Eles continuam não se sentindo brasileiros. No seu íntimo, o grande sonho é ainda deixar esse lugar, ou que ele fosse adotado como uma colônia extra-oficial de alguma metrópole utopicamente perfeita dentro da sua concepção, no caso, muitas vezes os EUA.
Mas assim como seus antepassados, a classe mérdia não consegue enriquecer fora daqui. E por isso não vai embora, só fica a nos azucrinar em como esse país é ruim, como esse povo é ruim, como o problema é ser Brasil e ser brasileiro. E os seus filhos e filhos dos seus filhos, aprendem essa lição, direto da família, ou da mídia que foi construída por eles, para não nos deixar esquecer essa lição.
Claro que esse sentimento parece muito pior nos últimos tempos. Por duas coisas: a primeira é que a grande mídia, que antes era alinhada com o governo central, colocava panos quentes nos problemas nacionais. Afinal descontentamento com o país leva a descontentamento com o governo. Agora que estão na oposição, é fácil ver a lógica: quanto mais as pessoas odiarem o país mais odiarão quem o governa (como se as duas coisas fossem uma só, esse é o maior absurdo de toda essa questão). Então a percepção que os grandes meios de comunicação e seus articulistas dão é essa.
A segunda razão do aumento do ódio contra o Brasil é que a classe mérdia perdeu a maior compensação de que tinha por viver nessa terra de “gente inculta, feia, incivilizada”. Que era justamente ser de classe mérdia. Eles eram “superiores” pois tinham um dinheirinho a mais, não se misturavam com “essa gentalha”. Eram apenas 30 milhões de brasileiros, até o ano 2002. Agora são 90 milhões a compartilhar do mesmo status. A ir pra praia no fim de semana e congestionar o tráfego. A pegar avião. A entrar pra universidade. A lotar o Shopping Center. E o pior, em até ir pra Disney, a ir pra Miami. Tem “pobre” em tudo que é lugar.
Como escreveu a Danuza Leão, "qual a graça de ir pra Paris ou Nova Iorque se o seu zelador também pode?" Pois é. Qual a graça de comer salmão e beber vinho importado se hoje em dia isso é acessível? Qual a graça de ver a Copa se não precisa viajar pra isso e ela acontece bem aqui?
Os “pobres” já não estão mais tão pobres assim. É isso que tornou a vida da classe mérdia tão insuportável, a ponto de que se intimamente já odiavam o Brasil, agora queimam a bandeira em atos e manifestações. Perderam até o gosto de torcer pela seleção brasileira. O desprezo a nação chegou no seu limite. Eles precisam que alguém lhes socorra, que voltem os militares, que o V de Vingança destrua os governos, que Jesus traga o apocalipse, por favor, socorro, alguém, os liberte da vida na Colônia e lhes devolva para a merecida metrópole, de onde nunca deveriam ter saído.
Nano Souza
Nano Souza
TEXTO ORIGINAL NESTE ENDEREÇO:
Olá, tudo bem? Interessante a relação histórica e a visão dos colonos portugueses. Gostei da análise! Abs, Fabio www.fabiotv.zip.net
ResponderExcluirGosto muito do Brasil, minha Pátria por gratidão e fico muito revoltado quando tropeço com algum terráqueo tupiniquim desfazendo de sua terra mãe! Ingratidão somada com falta de visão e, sobretudo, TRAIÇÂO!
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