Flavio Aguiar
A agência de notícias Deutsche Welle divulgou um post reproduzindo vários jornais alemães com matérias sobre a condenação do ex-presidente Lula pelo juiz Moro – agora agravada pelo sequestro de seus bens. Neste particular, num gesto ao mesmo tempo atroz e ridículo, Moro pediu ao Banco Central que sequestrasse até R$ 10 milhões das contas do ex-presidente. O BC só encontrou pouco mais de 600 mil. Acho que o juiz, talvez por "excesso de trabalho", confundiu Lula com Aécio.
O post da DW, ao qual deveria ser acrescentada matéria do correspondente da revista Der Spiegel para a América Latina, Jens Glüsing, "Staat im Sumpf", "O Estado no Pântano", revela que o prestígio internacional da Lava Jato e do juiz Moro começa a deslizar ladeira abaixo, e o namoro pode acabar.
Na primeira repercussão do caso agora em tela, a condenação, vários jornalistas e artigos da redação citavam a defesa e o currículo mundialmente reconhecido do ex-presidente, por sua obra de caráter social no Brasil. Entretanto, quanto à sentença propriamente dita, havia referências simples, sem comentários nem argumentos da parte dos autores.
Agora a maré começou a mudar. Apontam-se sem papas na pena ou no teclado, muito menos na língua, os excessos e arbitrariedades do juiz e da Lava Jato. Fala-se abertamente na falta de provas contra o ex-presidente, na ausência de documentos que comprovem as acusações. Fala-se em perseguição jurídica – lawfare, na expressão consagrada em inglês.
A Lava Jato já foi menina dos olhos internacionalmente. Ganhou até prêmio, por parte da Transparency International, que tem sede em Berlim e organiza um ranking da corrupção em escala mundial. O tom era que – embora pudesse ter defeitos aqui e ali – a operação empalmava a esperança de que um novo Brasil emergisse dela, menos propenso a tolerar a impunidade dos crimes de colarinho branco.
O tom agora é outro. Enquadra-se a Lava Jato na moldura do golpe de Estado que se abateu sobre o Brasil. A expressão é esta: golpe de Estado. Ressalta-se a complicação por que passa atualmente o Estado brasileiro, engolfado por uma vaga de políticos acusados de toda a sorte de corrupções e outros malfeitos, inclusive o presidente Temer. Assinalam-se que perto destas acusações, as que pesam contra Lula são uma ninharia, ressaltando-se, de novo, que não há provas contra ele, enquanto chovem provas contra os outros. E fazem-se referências às ilegalidades cometidas pela Lava Jato, seus procuradores, policiais e seu juiz.
É bom lembrar que a revista Der Spiegel foi das primeiras, no mundo todo, a consagrar a expressão "kalt Putsch" (golpe a frio, ou "soft coup"), em inglês, "golpe branco" na nossa versão tradicional, para descrever, no ano passado, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. E que isso ressonou em outros veículos de comunicação também em outros países.
Mas não é só a Lava Jato e o atual governo brasileiro que estão em trajetória descendente. Um efeito colateral que salta aos olhos é o do desprestígio internacional da nossa mídia mainstream, Globo e suas micagens contra Lula à frente. Houve um tempo em que – dando a impressão de serem pachorrentos escribas assentados nas areias de Copacabana – correspondentes estrangeiros citavam apenas a Globo, a Folha, o Estadão, eventualmente algum analista empresarial e políticos em Brasília. Agora há uma tendência a dar-se conta de que a música é muito diferente da que é alardeada pela nossa mídia golpista, e que o órgão toca mais embaixo.
Os golpistas e seus defensores no Brasil querem fazer passar a impressão de que o Brasil navega agora em mar de almirante e voa em céu de brigadeiro, que o país, depois dos "desmandos populistas" e da "quadrilha petista", está entrando nos eixos. A verdade geral é muito outra. Nem na City londrina se acredita mais nessa musiquinha desafinada. Leia-se no Financial Times a matéria sobre a agressão de Temer à Amazônia para comprar votos dos ruralistas. Os golpistas brasileiros não estão apenas nus, como o rei da fábula. Ele estão expostos até os ossos.
Uma das evidências mais marcantes disso é aquela imagem no presidente (?) Temer, vagando a esmo, em meio aos mandatários do G20, sem conseguir falar com ninguém, como se fosse alma penada, esqueleto ambulante.
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