A homofobia nos EUA não é exclusividade do fundamentalismo islâmico: O fundamentalismo cristão LGBTfóbico tem se expressado na criação de diversas leis.
Isabela Palhares
Na última madrugada de sábado para domingo, um atirador matou 50 pessoas e feriu outras 53 em na boate gay Pulse em Orlando na Flórida. O criminoso, que foi morto pela polícia, era Omar Mateen, 29 anos, cidadão norte-americano, nascido em Nova Iorque, morador de Treasure Coast na Flórida, muçulmano e de origem Afegã.
Um dia após o ocorrido, todo o mundo já tem mostrado solidariedade para com as famílias e amigos das vítimas e os presentes na madrugada fatídica. Em Londres e São Paulo ativistas da causa LGBT realizaram atos e vigílias e as redes sociais estão mobilizadas em memória das vítimas como mostram as páginas no Facebook “Vítimas da Pulse Orlando” e “Caminhada em vigília pelo ataque na Pulse Orlando”.
Enquanto ativistas e civis se mobilizam pela causa mostrando indignação e repulsa, questões acerca dos direitos LGBT, do controle de armas e sobre o “islamismo radical” e imigração no país estão sendo levantadas.
Gays não podem doar sangue
Após chamada de urgência para doações de sangue na Flórida, centenas de moradores da região estão fazendo longas filas em bancos de sangue para doação. No entanto, o que prevalece e causa mais indignação é a ironia de um Estados Unidos fundamentalista e conservador. Devido a proibição de doações de sangue por homens bissexuais e homossexuais, muitas pessoas não poderão ajudar amigos e familiares feridos na boate Pulse. A proibição iniciou em 1983 e desde então somente a administração Obama realizou mudanças – insuficientes - na lei, permitindo que homens bissexuais e homossexuais doem sangue contanto que tenham estado em celibato por um ano.
Em 2013 a Associação Médica Americana (AMA) declarou que a proibição é preconceituosa e não tem base científica e pediu que a Administração de Alimentos e Drogas (FDA) mude a política.
E o fundamentalismo cristão?
Segundo a Campanha de Direitos Humanos, nos Estados Unidos, estão sendo monitoradas por ativistas de direitos humanos ao redor do país, atualmente, quase 200 propostas de lei LGBTfóbicas, quase o dobro do ano passado. Um delas é a Lei de Liberdade Religiosa, do Mississipi, que permite a não oferta de serviços a pessoas “inconsistentes” com certos pensamentos religiosos. A lei entra em vigor em Julho.
Essa movimentação conservadora é consequência da decisão da Suprema Corte dos EUA em garantir o casamento homoafetivo no país tendo como base a constituição norte-americana.
O próprio governador do Mississipi, Tate Reeves, alegou que muitos mississipianos, incluindo pastores, queriam proteção para exercer sua liberdade religiosa.
Além disso, o principal candidato Republicano, com o maior número de votos da história dos candidatos do partido, Donald Trump, é contra o casamento gay e já manifestou opiniões preconceituosas.
A homofobia que motivou Omar Mateen, comprovada pelo seu pai que confirmou que o filho tinha ódio dos gays e que aumentou após ver um casal homoafetivo se beijando, não é exclusiva do fundamentalismo islâmico. O fundamentalismo cristão dos Estados Unidos é LGBTfóbico, porém não demonizado como o islamismo por ser parte da cultura ocidental e principalmente parte da constituição dos Estados Unidos.
Antes mesmo de ser divulgada uma possível relação do assassino com o Estado Islâmico, veículos de mídia norte-americanos já o vinculavam a grupos terroristas do Oriente Médio, ignorando a possibilidade de Omar ser um fundamentalista cristão, justamente por causa da presença política que essa comunidade tem nos EUA e ignorando, principalmente, a empreitada conservadora dos cristãos com leis anti-LGBT.
Posse de Armas
A segunda emenda da constituição dos EUA garante o porte de armas aos cidadãos norte-americanos, incluindo rifles usados no exército. Os massacres em Connecticut em 2012, Carolina do Sul e Califórnia em 2015 e agora em Orlando, no entanto, não são provas suficientes, para os defensores da posse de armas, de que algo está errado. Desde 2012, algumas leis que tentaram tornar mais rigorosa a posse de armas não foram aprovadas pelo Congresso.
De acordo com uma pesquisa feita na Suíça, em 2007, sobre armas de pequeno porte, com menos de 5% da população do mundo, os Estados Unidos detêm de 35% a 50% do total de armas possuídas por civis.
Em declaração sobre o ataque na boate Pulse, a candidata Democrata a presidência, Hillary Clinton, salientou, “em Orlando e na Califórnia os terroristas usaram rifles, o AR-15. E usaram para matar os norte-americanos. Essa foi a mesma arma usada para matar as crianças em Sandy Hook. Temos que tornar a posse mais difícil para as pessoas que não deveriam ter essas armas de guerra. E isso pode não evitar tiroteios ou todos os ataques terroristas, mas irá parar alguns e irá salvar vidas”.
Texto original: CARTA MAIOR
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