quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O 11 de setembro europeu

A estupefação com os atentados terroristas em Paris é proporcional à incapacidade de se admitir as verdadeiras causas desta barbárie.

Jeferson Miola

A estupefação com os atentados terroristas em Paris é proporcional à incapacidade de se admitir as verdadeiras causas desta barbárie.

O mundo inteiro é afetado pelos desdobramentos da guerra travada pelas potências mundiais contra o Estado Islâmico, a Al Qaeda e outras organizações terroristas. Mas esta não é uma guerra mundial, e os países que estão no seu centro causal e na arena dos combates não enchem duas mãos: EUA, França, Espanha, Inglaterra e alguns aliados.

Com suas guerras de dominação e de exploração no norte da África e no Oriente Médio realizadas a pretexto de combater regimes tirânicos, as grandes potências esgarçaram completamente a relação com o mundo árabe-muçulmano. E, com isso, trouxeram para o continente europeu o mesmo inferno que instalaram nas ex-colônias.

Há poucos dias, Tony Blair se desculpou pela “pequena falha” cometida na ocupação criminosa e ilegal do Iraque em 2003. Ele reconheceu que eram falsos os pretextos de George W. Bush de que o regime de Saddam estocava armas químicas de destruição massiva.

Apesar desta fraude, Blair [que com a confissão deveria ser julgado pela Corte Internacional de Haia] mesmo assim considera válida a guerra não autorizada pela ONU contra o Iraque, que visava se apropriar das reservas petrolíferas e devastar totalmente a infraestrutura do país, para depois os capitais estadunidenses e ingleses “reconstruírem-no”.

No início da “guerra preventiva”, como ficou conhecida a cruzada contra o “eixo do mal” desatada por Bush após o 11 de setembro de 2001, apenas a Inglaterra, a Austrália e a Polônia atuaram diretamente na invasão do Iraque. Outros 45 países declararam apoio não-material e não-militar, e não condenaram o descumprimento da decisão da ONU.

Nos anos subsequentes, vários países – dentre eles, de modo marcante a França – passaram a buscar participação na partilha do butim das guerras. O país governado por François Hollande inclusive foi com sede ao pote; foi mais realista que o próprio rei: em 2011, convocou uma coalizão bélica da OTAN para invadir a Líbia e assassinar Muamar Kadafi, antes mesmo de Obama tentar obter autorização congressual para atacar aquele país.

As incursões das potências mundiais para combater o “eixo do mal” se replicaram nos últimos anos, multiplicando a violência, os conflitos e a diáspora de milhões de imigrantes desesperados que tentam chegar à Europa, onde são repelidos com insuportável inumanidade e desprezo. Aylan Kurdi, o menino sírio de 5 anos, emborcado morto nas areias do litoral grego, é a imagem tenebrosa desta realidade.

Este processo reabre feridas históricas, e reacende a memória da humilhação ancestral dos descendentes árabes e muçulmanos que, na França, representam parcela significativa da população total francesa. A cadeia de transmissão hereditária reserva aos descendentes árabes e muçulmanos o pior dos mundos na Europa: primeiro os avós e bisavós, depois seus pais, agora eles e seus filhos, assim como seus netos e bisnetos, estarão condenados à classe de sub-cidadãos.

As políticas xenofóbicas e segregacionistas, juntamente com a inexistência de oportunidades iguais para os imigrantes e para os descendentes de imigrantes, ajudam a legitimar a cantilena doutrinária do Estado Islâmico, que é cada vez mais eficiente na cooptação de jovens destituídos de perspectivas de futuro.

O ataque à revista Charlie Hebdo em janeiro deste ano, também em Paris, foi um sinal da mudança de padrão da ação terrorista. A partir deste episódio, foram aperfeiçoados e integrados os serviços de inteligência e de monitoramento da União Europeia e dos EUA. Apesar disso, no último dia 13 o Estado Islâmico logrou perpetrar sete ataques praticamente simultâneos num intervalo de apenas 40 minutos. Isso evidencia a complexidade e a inteligência operacional desta organização, capaz de driblar os mais especializados serviços de inteligência do mundo.

A resposta impulsiva das potências à barbárie terrorista da sexta-feira 13 de novembro é mais guerra, mesmo que não se saiba qual nação será o alvo ao certo. A espiral belicista, sozinha, além de ineficiente, agrava consideravelmente a violência e os revides terroristas. O assassinato de Bin Laden não arrefeceu o ímpeto da Al Qaeda, como tampouco diminuiu a capacidade operacional do terrorismo.

Ao invés de promover a guerra de civilizações entre o ocidente e o islamismo, as potências dominantes deveriam entender que o inimigo principal está nas políticas empreendidas pelos seus governos com despotismo em todo o mundo, e de maneira mais acentuada no norte da África e no Oriente Médio.

Estas políticas são o verdadeiro ninho da serpente; são laboratórios de multiplicação do Estado Islâmico e de versões deturpadas do Islã. O problema não está no outro lado do Mar Mediterrâneo, mas dentro das fronteiras do próprio continente europeu, como revela a identidade dos terroristas. Dos cerca de 30 mil militantes do Estado Islâmico, mais de 2 mil deles são nacionais europeus. O horror desembocou na Europa de uma maneira perturbadora.

Texto original: CARTA MAIOR

3 comentários:

  1. Quem organizou a destruição da Líbia com a NATO foi o Sarkosy, traindo Kadafi que havia financiado sua campanha eleitoral, mas vamos ao que interessa agora.
    Os dirigentes da Comunidade Europeia parecem um bando de idiotas dançando valsas no velório da morte da Europa! Os néscios ou muito vendidos, ainda não enxergaram que os EUA não descansam de arranjar-lhes problemas, enquanto não derrubarem o Euro! Entraram na armadilha de destruir a Líbia, um dos maiores parceiros comerciais da CE e depois entraram de gaiatos na fantochada da Ucrânia, criando muitos conflitos com a Rússia, seu grande parceiro comercial e principal fornecedor de gaz. Os russos responderam à altura e a Europa está passando frio por falta de gaz, as exportações cairam muito gerando desemprego e não contentes com tanta burrice feita, entraram em mais uma armadilha dos EUA, foram participar ativamente da guerra contra o governo sírio de El Assad. Ajudaram a destruir muita coisa na Síria, mas não puderam ir adiante porque a Rússia entrou no conflito, mostrando alta tecnologia no domínio do espaço aéreo do mundo. Continuaram apoiando a Turquia que serve de trampolim para o estado islâmico vender o petróleo roubado do Iraque e passaram a sofrer com a invasão de centenas de milhares de refugiados árabes que fogem destas regiões onde reina a guerra co muita destruição. A Comunidade Europeia parece agora um grande saco de gatos onde muitos entraram esfomeados e cheios de frio procurando agasalho junto dos que lá estavam confortávelmente acomodados. No meio desta confusão tem gente infiltrada para avacalhar a Europa! Já começaram! O estado islâmico anuncia-se como autor do atentado em Paris, mas fazem algumas semanas que eles não podem prever se estarão vivos no dia seguinte, tal a intensidade e violência dos ataques russos. Cheira a manobra suja da CIA. A balbúrdia está apenas começando e se a CE não se aliar à Rússia para combater o terrorismo que é atribuído ao estado islâmico, mas cheira muito a Mossad/CIA, corre o risco de desintegrar-se.

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  2. E quem fomentou tudo isto foram os EUA! Qual o interesse maior? Derrubar o Euro e desintegrar a CE.

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    1. O que eu acho impressionante é que encontro muitos porfessores que repetem o bordão da grande imprensa que os EUA etão indo para o oriente médio levar a democracia e para humanizar esses povos!!! Estou falando de professores que são responsáveis pela educação da população. PRA SE VER O GRAU DE MANIPULAÇÃO DESSAS TVS!!!!

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