quarta-feira, 20 de março de 2013

DE TRILHOS E SUBMARINOS

(HD) - A Presidente Dilma Roussef, inaugurou há dias, o estaleiro que produzirá os nossos submarinos. A primeira encomenda é de quatro belonaves convencionais e uma nuclear, cujo casco será construído com a parceria da estatal francesa DNCS, com o reator a cargo da Marinha. O Brasil talvez pudesse poderia chegar ao mesmo resultado – o submarino atômico só irá ao mar em 2023 – com menos dinheiro, se contratasse técnicos aposentados com o fim da URSS - e ainda disponíveis, às centenas, na Rússia e na Ucrânia.

Isso poderia ter sido feito desde o início do projeto, há quase 20 anos, coincidindo com a crise do socialismo, mas, infelizmente, o Brasil tem tido, a partir do governo Fernando Henrique, dificuldade para pensar e coordenar seus projetos de longo prazo. Esse é o caso, por exemplo, das duas licitações da VALEC para a compra de 250 mil toneladas de trilhos, destinados à Ferrovia Norte-Sul e à FIOL – Ferrovia de Integração Oeste-Leste - suspensas, depois de intervenção do TCU, neste início de ano. Um só consórcio se apresentou para as duas concorrências, o que espanta, diante da dimensão do negócio. É estarrecedor que só agora, na etapa da conclusão das obras, os trilhos estejam sendo encomendados à China.

Não é possível entender que se comece uma ferrovia sem saber de onde virão suas peças mais óbvias, como são os trilhos. E, menos ainda no país que é o maior produtor de minério de ferro do mundo, e com capacidade ociosa em sua indústria de aço. É inadmissível que - com um grande empresário da área, o Sr. Jorge Gerdau, atuando como articulador do governo com o setor privado – o Brasil não seja capaz de produzir seus próprios trilhos. Se nossas usinas siderúrgicas estatais – com sua importância estratégica, como vemos agora - não tivessem sido irresponsavelmente privatizadas, até o ponto de não sobrar nem uma sequer, bastaria, como ocorre na China, que o Governo convocasse uma delas e determinasse a execução da tarefa.

Como isso não é possível – até mesmo pela resistência cada vez maior do governo em defender qualquer medida que possa ser interpretada como estatizante – o problema poderia ser resolvido, apesar da proverbial chiadeira, dentro das “regras” do mercado. O BNDES, em vez de ficar financiando multinacionais que mandam bilhões para fora todos os anos, poderia ir às compras no Bovespa, para fortalecer o controle do Estado em áreas estratégicas, recomprando, por exemplo, as ações que pertenciam à Previ, na Embraer, e que foram vendidas no governo Lula. O preço das ações – por obra da campanha de sabotagem da imprensa econômica internacional contra o governo – está em baixa. A aquisição de papéis da Petrobras e da Vale ajudaria a recuperar seu valor, e eles poderiam ser vendidos, com lucro, no futuro.

TEXTO RETIRADO DESTE ENDEREÇO:
http://www.maurosantayana.com/2013/03/de-trilhos-e-submarinos.html

Um comentário:

  1. Prezado Antonio Carlos, de fato parece difícil entender a lógica pela qual "que se comece uma ferrovia sem saber de onde virão suas peças mais óbvias, como são os trilhos. E, menos ainda no país que é o maior produtor de minério de ferro do mundo, e com capacidade ociosa em sua indústria de aço". Mas você já indicou a resposta no parágrafo anterior: falta ou dificuldade de se planejar a longo prazo. O que começa com FHC e continua com Lula/Dilma. A questão de fundo é saber porque nos governos Lula/Dilma ainda existem tantos freios à ideia de um protagonismo totalizante pelo Estado, ou de um grande projeto estratégico liderado pelo Estado etc. Meu palpite é que a resposta se encontra na cultura política presente na nova esquerda brasileira que emerge com o fim da ditadura, entre o fim da década de 1970 e o início dos 80. É uma esquerda (que culminará em diversos movimentos sociais, na CUT e no PT) bastante diferente das esquerdas que existiam antes da ditadura. Enquanto aquelas tinham um "macro" projeto de sociedade que pressupunha ir em direção ao Estado para partir dele a execução do projeto - e daí a ênfase em aspectos como o do planejamento sociopolítico etc. - a "nova" esquerda cutista/petista/lulista nascem despidas de projetos "macro" ou de metas de longo prazo ou situadas no horizonte (já que a lógica dos novos movimentos sociais é localista, imediatista e pragmática), e o Estado não é importante ou fundamental, SENÃO para ter seus recursos pulverizados e fragmentados na multidão de pequenas demandas dos novos movimentos sociais. A nova esquerda petista/lulista é, portanto, pragmática e imediatista. Quem não se lembra do "slogan" da primeira vitória de Lula candidato: "combater a corrupção e melhorar a vida do povo"? E, para uma cultura pragmática, imediatista e localista, pensar em termos de macro estratégias ou de grandes planos, com horizontes muito longos, pode ser uma tarefa impossível.

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