segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Quem roubou natal de Jesus?

(cartaz de 1937: de dar medo)

No shopping próximo à minha casa, o tema da decoração de Natal é “a floresta encantada de Papai Noel”. Juro que procurei entre as folhagens de plástico, as girafas de pelúcia e os chimpanzés músicos para ver se o achava, mas não encontrei Jesus. Nada de Maria, José, do anjo, dos reis Magos e das cabras, bois e vacas. Nada que se assemelhasse a uma manjedoura. Enfim, nada de Natal na decoração de Natal.

Fiquei pensando quando foi que o menino Jesus deixou de ser protagonista de sua própria festa de aniversário. Jesus, o profeta a quem, pelo menos nas estatísticas, um terço da humanidade dedica sua fé, faz uma ponta no Natal hoje em dia. A figura central, a grande estrela da maior festa do mundo cristão é um velho barbudo de aparência nórdica que só criancinhas acreditam que exista. E, aparentemente, ninguém está nem aí.

O Natal é uma verdadeira cilada. TVs, jornais, familiares, tudo conspira para que você se sinta tomado pelo “espírito natalino”, que se traduz em: se meter em shoppings abarrotados de gente para comprar coisas que sairiam pela metade do preço no mês seguinte. Mesmo que você não queira participar, é obrigado a seguir o fluxo porque não quer que seus filhos cresçam traumatizados por não ganhar presente quando todo mundo recebe –do Papai Noel, claro, aquele gordinho que espera o ano todo por este bico, suarento debaixo da roupa vermelha e da barba branca em pleno verão brasileiro.

Aliás, a disparidade entre o que se construiu como “Natal” no hemisfério Norte e a realidade dos trópicos é um mico à parte. Bonecos de neve de feltro, de gorro, cachecol e cenoura no lugar do nariz, se espalham pelo País e tomam de assalto até as repartições públicas, enquanto as secretárias se abanam de calor. O “jeitinho” brasileiro se desdobra para recriar a atmosfera gélida, condição sine qua non para que o “espírito natalino” baixe, e dá-lhe neve de pipoca, de isopor, de algodão. Tenho certeza que nunca seremos uma nação de fato enquanto precisarmos macaquear um clima que não é nosso para conseguir algo tão singelo quanto o congraçamento familiar.

Não conheço nenhuma festa religiosa no mundo cujas principais manifestações sejam gastar muito dinheiro, comer para caramba e encher a cara. A festa máxima dos cristãos é a festa religiosa mais capitalista do planeta. E olhem que a mensagem de Cristo era o exato oposto. Não foi o filho de Deus quem expulsou os vendilhões do templo? Não foi ele quem disse que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”? Quer mensagem menos capitalista do que esta?

Mas falar dessas coisas é querer estragar a festa, quebrar a “magia” do Natal –muito embora a única visível seja o mágico tilintar das caixas registradoras. Para o comércio, a data é uma bênção. Para as igrejas, o mundo do dinheiro nunca foi exatamente um incômodo e pode, afinal de contas, render belos donativos. Tampouco parece ser um empecilho que os fiéis gastem todo o 13º salário e se endividem em compras, porque depois engrossarão as fileiras dos que procuram as casas de Deus em busca de conforto não para os flagelos da alma, mas do bolso.

Tem igrejas pentecostais que vivem disso, de oferecer aos crédulos a superação das dívidas financeiras e o sucesso econômico através do poder de Deus. De que lhes serviria abrir os olhos dos fiéis e pregar que o Natal não é sinônimo de gastança? Deixa quieto, Papai Noel é bem mais conveniente que Jesus, até porque não fere suscetibilidades. Sem essa de rico não poder entrar no reino dos céus: seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem, não é mesmo? “Compre, compre. Ho, ho, ho”.

Meu lado cristão se revolta de ver que o Natal se transformou nessa pseudo festa religiosa, vazia de significado espiritual. Em vez de se incomodar com a vida íntima do próximo, de tentar interferir na orientação sexual do semelhante ou de se empenhar em lutas surreais como a cruzada contra a proteção da camisinha, as igrejas cristãs deviam se dedicar a repensar sua festa mais importante. Se os cristãos fossem de fato cristãos, tinham de estar preocupados que o nascimento de Jesus perdeu o lugar para o consumismo que o Papai Noel representa. Tentar resgatar a mensagem do Natal: esta, sim, seria uma luta de fato agregadora, digna da data e do aniversariante.

Dá para começar em casa, montando o presépio com as crianças como aconteceu no passado e, no mínimo, explicar a elas que o dono da festa não é o Papai Noel, que não é por causa dele que o Natal existe. Quantos cristãos fazem isso?
Boas festas a todos.Publicado em 24 de dezembro de 2012
Por Cynara Menezes

TEXTO REPLICADO DESTE ENDEREÇO:

10 comentários:

  1. Uma boa lembrança, começar uns meses antes a campanha para devolver o natal ao seu aniversariante principal -
    JESUS CRISTO, independente da denominação religiosa de cada cristão.
    Cristão é todo aquele que luta por paz e justiça social econômica entre os povos, na sua casa, comunidade.
    Cristão tem uma grande tolerância e compaixão
    Cristão sempre está conscientizando de todos estes aspectos

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  2. Olá, tudo bem? Tudo virou comércio, lucro.... Vivemos no capitalismo... Rs... Aproveito para desejar um excelente 2013!!!! Abraços, Fabio www.fabiotv.zip.net

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  3. Ricos do norte e pobres do sul, ambos estourando o champanhe. Aqueles, comemorando o aumento das cifras da conta bancária com as vendas dos seus produtos e ideias aos miseráveis do mundo. Enquanto, esses, bebem para esquecer as tragédias enfrentadas em 2012 e as que virão em 2013. As pessoas do mundo estão longe de andarem como dizia Drumond, "de mãos dadas".

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  4. A temática de natal de um shopping aqui de São Paulo era "Papai Noel no fundo do mar". Tinha cavalos-marinhos, estrelas do mar, peixes... enfim, não entendi nada mesmo! Olha como se perdeu totalmente o significado do Natal. E o povo feliz e satisfeito carregando suas sacolas...

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  5. De fato o Povo perdeu a noção do que representa o Natal! Os líderes religiosos são os maiores culpados da aberração que se tornou o Natal de gastança, colmilança e muita falta de humanidade, enquanto uns gastam à tripa forra em futilidades, a grande maioria assiste em silêncio à tremenda zoeira da mídia, são eles que fazem do Natal uma espécie de carnaval de consumo.

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  6. Obrigado por trazer-nos à memória de fundo! Abraço ecorrevolucionário.

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  7. Muito bom lembrar d ecertas coisas. Bom texto.

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  8. Não é por causa do 'bom' Velhinho que existe o Natal!
    Concordo!
    Mas também não é por causa da figura mítica de Jesus!! Apenas os religiosos se apoderaram de uma festividade pagã! Ou será que o Sol Invicto já foi esquecido ou propositalmente ignorado?

    Aquilino R. Lela

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  9. Boa noite verdade palavras amigo professor Antônio Carlos

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