Esse texto eu consegui no Grupo Itabaiana Grande e estou divulgando por achar impressionante o descaso coma coisa pública e a promiscuidade do envolvimento da Rede Globo com o regime Militar.
dezembro 30, 2010
Vou jogar na Mega Sena da virada. Se eu ganhar, prometo que reconstruirei o Palácio Monroe e o doarei a minha cidade: Niterói. Là funcionará a sede da minha fundação, que construirá bibliotecas em todo o país.
Pode causar estranhamento eu dizer isso, pois o Palácio ficou marcado como uma construção eminentemente carioca. Mas eu vejo além disso. Vejo um marco da arquitetura BRASILEIRA. E se é Brasileiro, pode ser erguido em qualquer lugar.
O palácio, foi originalmente projetado para ser o Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Saint Louis, nos Estados Unidos, em 1904. Meu pai estava me contando a história dessa magnífica construção, história que reflete claramente certas características brasileiras.
Concebido pelo arquiteto e engenheiro militar, Coronel Francisco Marcelino de Sousa Aguiar, o palácio foi criado a partir de uma estrutura metálica capaz de ser totalmente desmontada. Dessa forma a construção foi erguida como previsto, em Saint Louis.
A edificação tinha 1700 metros quadrados de área construída. Nela, os elementos de suacomposição arquitetônica inscreviam-se na linguagem geral do ecletismo, num estilo híbrido, caracterizado por uma combinação liberal de diversas origens que marcou uma época de transição na arquitetura brasileira.
A imprensa norte-americana não poupou elogios à estrutura, destacando-a pela sua beleza, harmonia de linhas e qualidade do espaço. Na ocasião, o Pavilhão do Brasil foi condecorado com a medalha de ouro no Grande Prêmio Mundial de Arquitetura, o maior certame do gênero, à época.
Desmontado ao final do evento, a estrutura foi transportada para o Brasil, vindo a ser remontada na cidade do Rio de Janeiro em 1906, para sediar a Terceira Conferência Pan-Americana. O Barão do Rio Branco, por sugestão de Joaquim Nabuco, propôs que, ao Palácio de Saint-Louis, como era conhecido, fosse dado o nome de Palácio Monroe, em homenagem ao presidente norte-americano James Monroe, criador do Pan-Americanismo.
Entre 1914 e 1922, o Palácio Monroe foi sede provisória da Câmara dos Deputados, enquanto o Palácio Tiradentes era construído. Com a inauguração deste, durante as comemorações do primeiro centenário da independência, o Senado Federal passou a utilizar o Monroe como sua sede.
O edifício era lindíssimo, mas seu fim foi trágico. Em 1974, durante as obras de construção do Metrô do Rio de Janeiro, o traçado dos túneis foi desviado para não afetar as fundações do palácio. Nessa época o Governo Estadual decretou o seu tombamento.
Uma campanha mobilizada pelo jornal O Globo, com o apoio de arquitetos modernistas como Lúcio Costa pediu a demolição do Palácio Monroe, sob alegações estéticas e de que o prédio “atrapalhava o trânsito“.
Nessa época não era uma ideia muito salutar ser contra os interesses do poder constituído. Mas mesmo assim, houve quem se revoltasse e defendesse a permanência do palácio: O JORNAL DO BRASIL, IAB e o Clube de Engenheira.
O então presidente Ernesto Geisel, que também não era favorável ao edifício, sob a alegação de que prejudicava a visão do Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, não concedeu o decreto federal de tombamento e, em março de 1976, o monumento foi demolido. Lamentavelmente todo o seu rico acervo foi leiloado “a preço Banana”. Literalmente.
É ou não é um retrato do Brasil? Constrói-se um troço sensacional para fazer bonito lá fora. Para isso, não se poupa esforços. Logo, gasta-se os tubos em dinheiro público, para fazer algo modular que possa ser construído e desmontado. Uma ideia ótima. E depois, por imbecilidade e miopia governamental, vão demolir a construção – que poderia ter sido desmontada e remontada em outro local, porque ela estava num lugar que “incomodava o progresso”, porque ela “estaria no caminho do túnel do metrô”.
Isso na verdade é o tipo de crueldade que surge não sei de onde. Provavelmente da cabeça maldosa de algum jornalista que viu na coisa de culpar o metrô (a modernidade) pela morte do palácio (a antiguidade). É esteticamente muito bonito, mas a verdade dos fatos é que o Metrô teve um trabalho do caramba para fazer passar o caminho dos trens ao lado do palácio, de modo a não afetar suas fundações.
Isso explica uma misteriosa curva que surge logo após a estação Cinelândia. A única intervenção necessária para o metrô foi o desmonte da escadaria de mármore, que exigiu a vinda de uma equipe especializada da Itália. A escada, seria reconstruída logo após a conclusão do tunel.
Então, a culpa, meus amigos, não é nem nunca foi do metrô. A culpa é do maior inimigo do Brasil, a desgraça do político.
Quem canetou mandando demolir o palácio foi o presidente Ernesto Geisel. Por que? Pelo mais fútil dos motivos. Veja só:
O General Ernesto Geisel era o quarto presidente militar desde o Golpe de 64. Ele foi empossado pelo Colégio Eleitoral em 1974. Geisel nutria um ferrenho horror pelo filho do Coronel Arquiteto Francisco Marcelino de Souza Aguiar, o genial projetista do Palácio Monroe. A raiva que Geisel sentia dele foi originada quando o filho de Souza Aguiar foi promovido no Exercito em detrimento de Geisel. Por puro ódio e vingança, Geisel aproveitou seu poder de Presidente da Republica e simplesmente autorizou a demolição do Monroe, acabando com o premiado projeto do pai de seu inimigo. É mole mermão?
Reflete ou não reflete o que é o Brasil? Quando os presidentes usam a caneta como se investidos fossem de um poder divino que os permitisse tudo? Mas Geisel não estava sozinho nessa. Ele teve um apoio importante de outra figura famosa:
Era Roberto Marinho, o jornalista e chefe das Organizações Globo. Doutor Roberto, como era chamado sempre apoiou os militares desde a época do Golpe. Aproveitando a grande circulação do Jornal O Globo, fez uma enorme campanha a favor da demolição do Monroe aproveitando-se da obra do Metrô. Quase que diariamente O Globo publicava editoriais exigindo o desaparecimento do Palácio. Inteligente, roberto Marinho sabia que falar mal do palácio, era agradar ao presidente.
No ultimo editorial publicado pelo Globo podia-se ler as seguintes palavras:
“Por decisão do Presidente da Republica, o Patrimônio da União já está autorizado a providenciar a demolição do Palácio Monroe. Foi, portanto, vitoriosa a campanha desse jornal que há muito se empenhava no desaparecimento do monstrengo arquitetônico da Cinelândia. (…) O Monroe não tinha qualquer função e sua sobrevivência era condenada por todas as regras de urbanismo e de estética. Em seu lugar o Rio ganhará mais uma praça. Que essa boa noticia, que coincide com o fim das obras de superfície do metrô da Cinelândia seja mais um estimulo à remodelação de toda essa área de presença tão marcante na historia do Rio de Janeiro”.
Outra personalidade que realmente militou pela demolição foi o arquiteto Lúcio Costa. Ele defendia também a demolição do Monroe sob o argumento de dar chance à arquitetura brasileira moderna. Especula-se que Lúcio Costa estava de olho no espaço, que já se cogitava transformar em estacionamento. Lúcio Costa chegou ao cúmulo de passar abaixo-assinados em associações de arquitetos para endossar a demolição do Monroe. Foi mal visto na época por seus colegas que nunca o perdoaram por esse gesto criminoso.
Do lado oposto à demolição estavam arquitetos, o CREA, o Jornal do Brasil, o Juiz Federal Dr. Evandro Gueiros Leite (que sugeriu que o Monroe sediasse o Tribunal Federal de Recursos, que estava sem sede), o Serviço Nacional do Teatro, a Fundação Estadual dos Museus, a Secretaria Estadual de Educação, e várias outros entidades importantes e principalmente uma significativa parcela do povo carioca.
Mas nada podiam fazer ante a caneta vingativa da ditadura.
O resultado prático é que a belíssima construção foi demolida atoa. Meu pai me contou que hoje tem pedaços do Palácio Monroe num monte de fazenda de bacana espalhado por todo o Brasil.
Veja o que o jornal St Louis Republic disse do palácio:
ST. LOUIS REPUBLIC, 10 abril 1904
O Coronel Aguiar é engenheiro do exército brasileiro e foi quem projetou o edifício do Brasil na Exposição de Chicago, em 1893.O Coronel Aguiar não se cingiu a regras estabelecidas ao projetar e construir essa pérola no diadema dos edifícios estrangeiros.Na organização do trabalho influíram diferentes elementos: evolução das próprias idéias, apreciação das linhas gerais da exposição, estudo topográfico do terreno e do grupo de edifícios mais próximos.A execução representa o que há de mais adiantado na arte de construir e já tem despertado muita atenção; sem dúvida, há de ser um ponto atraente para os visitantes interessados em trabalhos de arquitetura e construção.Quem vem de Skinder Road para Clayton , vê surgir diante de si alvo e brilhante edifício, rodeado de graciosas colunas Coríntias; encima-o gigantesca abóboda .O efeito é de fazer estacar, arrancando espontânea admiração; suas formas personificam a graça. Parado na estrada, observando, em vão se procura uma simples falha, um ponto onde a vista sinta a aspereza de uma linha, onde uma curva, uma janela, qualquer decoração enfim, desagrada: procura-se debalde.Percebe-se a arte em todo ele: na simplicidade de sua grandeza, na simetria das dimensões, nas colunas, nas abóbodas laterais, no simbório, 135 pés acima do terreno. Essa construção representa um poema.
Eu fiquei estupefato quando meu pai me contou. Até tinha alguma noção de que o palácio tinha sido demolido, mas eu nunca poderia imaginar que o palacio havia sido projetado para ser desmontável. E que neguinho seria tão retardado mental para demolir algo que fora inicialmente projetado em blocos numerados, para facilmente ser remontado em outro lugar.
Aqui está uma bela foto do palácio sendo remontado no centro do Rio.
Depois de aprovada com o aval oficial do Presidente General Ernesto Geisel, a demolição do premiado Palácio começou entre janeiro e março de 1976.
O valioso prédio começou a sucumbir. Mas não sem gravar na História mais uma vez a verdadeira face deste país.
A empresa que foi contratada para demolir o Monroe pagou apenas CR$ 191 Mil (cento e noventa e um mil cruzeiros) com direito de venda de todo o material. O Governo autorizou.
Só com a venda do bronze e ferro do Monroe, esta empresa faturou nada menos que CR$ 9 Milhões. Tudo foi vendido…
Vitrais, lustres de cristal, pinturas valiosas, estatuas de mármore de carrara e bronze, moveis em jacarandá a balaustrada de mármore. Havia uma escada de ferro em caracol que foi vendida pela pechincha de CR$ 5, 00 (cinco cruzeiros), o metro. Sem contar muitas outras peças. Grande parte do piso, com mais de 2000 metros quadrados, foram para o Japão. Tudo por causa do tipo de madeira: a peroba do campo.
Abaixo, a foto da véspera do início da demolição, no ano em que eu nasci, 1976.
Seis dos dezoito anjos de bronze foram parar na fazenda de Luiz Carlos Branco em Uberaba, além de alguns balcões de mármore e vitrais. Os leões que ficavam na escadaria na entrada do Monroe hoje estão no Instituto Ricardo Brennand em Recife, Pernambuco.
E esse foi o triste fim do Palácio Monroe.
Então, meus amigos, eu fico aqui pensando como a imbecilidade do governante pode ser tão temível quanto as guerras. Por exemplo, muitas cidades da Europa gastaram décadas reconstruindo edificações de valor histórico que haviam sido destruídas completamente ou parcialmente com as bombas da segunda Guerra Mundial.
Fica a pergunta retórica de qual a diferença entre uma bomba que cai do céu em meio a uma guerra e um político descabeçado. E desse sentimento, surge a questão: Se tantos países europeus reconstruíram seus patrimônios perdidos, por que não reconstruir o Monroe?
Quando era Prefeito do Rio, o César Maia propôs reconstruir o palácio. Alguns foram contra, outros foram a favor.
Eu acho que o César Maia – mentor político daquele elefante branco, a Cidade da Musica, – que não está realmente pronto até hoje, meteu apenas mais um factóide no povo. Um entre dezenas de outros.
Pessoalmente, eu penso que gastar dinheiro publico nisso talvez não seja uma prioridade realmente. Sobretudo quando pessoas pobres não tem onde morar, não tem comida, escola, hospital e o cacete a quatro que o nosso imposto deveria servir para pagar, mas vai direto para aumentos “aloprados” dos salários dos próprios políticos.
Penso que o Palácio Monroe, caso fosse realmente cogitada sua ressurreição, deveria ser reerguido pela iniciativa privada. A começar com as organizações Globo, que foram também diretamente culpados pela destruição do primeiro edifício brasileiro premiado internacionalmente.
O palácio era todo numerado. Me pergunto por que não seria possível criar um movimento para que as pessoas comprassem as pedras do palácio? Imagina, tipo uma vaquinha gigante. A reconstrução poderia ser parecida com aquela ideia do moleque que vendeu um milhão de pixels a um dólar cada.
Fulano compra uma janela, Beltrano compra uma coluna, o Eike compra a cúpula e assim vamos refazendo o estrago.
Será que é possível encontrar a planta original do edifício? Imagina o quão gratificante poderia ser olhar para o prédio pronto e pensar: “Eu ajudei a reconstruir este palácio”. E quem sabe a partir deste gesto não surgisse no coração das pessoas um desejo por reconstruir, recuperar e reativar áreas destruídas, abandonadas e empobrecidas da cidade.
Me amigo MANDACARÚ:
ResponderExcluirTentarei reproduzir este seu artigo, pois ele mostra bem o "que somos" e permitimos.
Em Tempo: Tive o prazer de conhecer o Palácio Monroe em 1969...
A grande vantagem da internet é esta, ficamos sabendo de acontecimentos bons e maus que escrevem a história real do País e do mundo.
ResponderExcluirA história do palácio Monroe termina com a tremenda imbecilidade do gal.Geisel que pela certa foi mentalizado pelas idiotices da globo.
Ao dono do blogue, meus sinceros agradecimentos por escrever uma página da história do Brasil ao dedicar sua atenção ao Palácio Monroe que devemos reconstruir com a ajuda de todos que amam sua Pátria, este imenso Brasil!
marcospintobasto@superig.com.br
Infelizmente nasce no ano seguinte da demolição do Palácio!!!! Não tenho o prazer de hj apresentar a minha filha essa beleza de arquitetura...triste a bestialidade com que os governantes agiam na época.
ResponderExcluirCOMO PODE TIRAR UMA ARQUITERURA LINDA DESSA E CONSTRUIR UMA PRAÇA IDIOTA QUE TEM HOJE??? FRANCAMENTE, ESSA (M) DE METRO PODERIA TER SIDO FEITA EM OUTRA DIREÇÃO QUE IDIOTA PRAÇA INUTIL ESPAÇO PERDIDO , E TIROU A OBRA MAIS LINDA DE NOSSO PAÍS FALA SERIO, COMO PUDERAM DEIZAR QUE ISSO ACONTECER... EU REALMENTE QUERIA ENTENDER PORQUE FIZERAM ESSA MALDADE, EU NÃO VI ATE AGORA QUAL FOI O PRAZER NISSO.
ResponderExcluirEU TIVE A OUSADIA DE POSTAR UMA PARTE DESSA SUA REPORTAGEM DESTE BLOG NA MINHA PAGE, EU ESPERO REALMENTE QUE VOCE NÃO FIQUE CHATEADO COMIGO POR ISSO , EU ACHO QUE PRECISAMOS DIVULGAR ESSA PARTE DA HISTORIA DO RIO PEARA AQUELES QUE NÃO SABEM E NÃO TIVERAM ESSE PRAZER DE CONHECER TAL BELEZA ARQUITETÔMICA DO NOSSO PAÍS. OBRIGADO E PARABENS POR SUA RIQUEZA DE DETALHES NA REPORTAGEM.
E PARA QUEM QUIZER CURTIR OU VER O QUE EU POSTEI SOBRE O PALÁCIO É SÓ ENTRAR NESTE LINK DA MINHA PAGE NO FACEBOOK: https://www.facebook.com/pages/Rio-Seu-Lindo/180141032120197
O interessante é que não tinha necessidade de se demolir o palácio para se construir a praça!!! Bastaria que desmontasse o mesmo e remontassem em outro local!!!!! a parte mais brilhante deste palácio era justamente essa, ele podia ser desmontado e montado em outro lugar, muito bem bolado....
ExcluirEssa matéria é de extrema importância para o legado da historiografia . B como os estudos geográficos ...!
ResponderExcluirNão sei se é de extrema importância, mas mostra como é limitado socialmente os que tem poderes em nosso país!
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