quinta-feira, 9 de julho de 2009

CORRUPÇÃO SE APRENDE NA ESCOLA

Por Antônio Carlos Vieira

Quando vemos os noticiários sobre corrupção de alguns administradores, políticos ou mesmo funcionários públicos, sempre nos perguntamos: onde nós estamos. Estamos cercados de corrupção por todos os lados! Em um grau maior ou menor! Sim! Às vezes chegamos a nos indagar: mas fulano quando estudava, trabalhava ou mesmo era de nossa convivência não era assim. Será? Já parou pra pensar que nós aprendemos corrupção no dia e dia e não estamos sequer percebendo? Percebemos apenas quando a mídia divulga algum político de um ou outro partido, nas esferas dos poderes constituídos, que cujo interesse às vezes é partidário e não para se resolver o problema.

Vamos ver alguns fatos que ocorrem no dia a dia de uma escola, que demonstrará claramente que a corrupção existe no dia a dia do cidadão, e o que é pior, a mesma é aprendida e copiada também nas escolas. Poderíamos tomar como exemplos outros ambientes, tais como: uma igreja, uma repartição pública ou mesmo um clube social.

Mas, o fato de se ter escolhido uma escola, é que esse ambiente é singular no aprendizado do cidadão para a cidadania, e, portanto, perfeito para se entender onde aprendemos e aperfeiçoamos a corrupção. E pior, na maioria das vezes, nem percebemos que tais coisas estão sendo ensinadas ou copiadas pelos nossos alunos e professores.


Vejamos alguns exemplos:

Quando passamos trabalhos em grupo, para se fazer em sala de aula ou mesmo em casa, geralmente, um ou outro aluno não faz nada e coloca o nome no grupo de trabalho e recebe a nota como se tivesse participado do mesmo. O grupo não questiona a participação do mesmo, e ainda o defende perante o professor, mesmo se ele for argüido e não souber explicar nem uma linha do trabalho. Vocês já perceberam que no trabalho alguns colegas batem o ponto por outro pra que não fique registrado o atraso, ou mesmo a ausência, e às vezes é defendido pelos colegas como se o mesmo realmente compareceu ao trabalho naquele horário. Tanto no exemplo do Trabalho em Grupo na Escola e do funcionário que não bateu o ponto, ambos as pessoas que não fizeram nada serão beneficiadas. Isso não é corrupção? Interessante, os nossos representantes nas Câmaras Legislativas Municipais, Estaduais e Deputados Federais e Senadores fazem a mesma coisa. Será coincidência? Qual a diferença?

E aqueles alunos que nem sabe seu nome direito e vive a lhe trazer presentes? Quando chega numa avaliação, o mesmo não sabe nada e chega para o professor e diz: aí professor! Sabe como é? Sou seu amigo e coisa e tal! Aí o professor faz vista grossa e passa um trabalho (dá um jeitinho) e coisa e tal e os alunos são aprovados. Isso quando não vem a ordem dos nossos coordenadores e diretores de escolas (às vezes o aluno é amigo do diretor e coordenador) pra passar um trabalho (dar um jeitinho) pra ajudar o aluno. No funcionalismo público, acontece uma coisa interessante. Às vezes, temos que marcar uma consulta em um posto médico, tirar um documento em uma secretaria, ou mesmo estamos numa lista pra conseguir a casa própria ou de um concurso. Não é que, em muitos casos, dando algum presentinho as pessoas que são responsáveis por tais coisas a tal pendenga se resolve! Lembram quando o político lhe oferece facilidades na coisa pública, lhe dá um emprego ou a alguém da sua família e você vota nele. Ou, quando você, vai ao gabinete de tais políticos pedirem pra que ele lhe facilite a vida em algum órgão publico de alguma coisa pendente ou mesmo arranjar um empreguinho (e você nem sempre precisa a se submeter a este tipo de coisa). No congresso os deputados votam em projetos do governo dependendo se terem ou não um ministério, uma secretaria ou uma diretoria, ou um emprego para um parente. Qual a diferença? Estão vendo a semelhança?E quanto às leis que dão vários direito aos alunos. É recuperação da recuperação, provão da recuperação e acaba alguns alunos sendo aprovado sem sabe ler e nem escrever direito. Fora da escola temos aquelas leis que o cara vai preso e tem direito a tanta coisa que a gente tem a impressão que o mesmo nunca foi e nunca será punido. E quando nossos políticos são pegos com a mão na botija? Ai vem o tal de foro privilegiado, imunidade parlamentar, só pode ser julgado pelo supremo e por ai vai. Engraçado! Será pura coincidência a semelhança de tais facilidades ou impunidades?

E os alunos que são matriculados um mês ou mais depois de terem começado as aulas? E aquele funcionário público que foi contratado na época da eleição? Em ambos os casos são proibidos por lei. Mas, os nossos diretores de escolas e Administradores públicos fazem isso pra agradar o aluno e o eleitor. Tudo é pra agradar o aluno e também eleitor.

E as eleições para o Conselho Comunitário e Grêmio Escolar? Já perceberam que os participantes dos mesmos geralmente são alunos não muito chegados ao estudo em sala de aula e que os mesmo geralmente defendem alunos que não fazem nada e vivem a perturbarem os que querem alguma coisa, só para ganharem os votos. Chegam, inclusive, a pressionar os professores para ajudarem os colegas, que estão muito ruins de nota. Sem dizer que em alguns casos os candidatos são indicados por diretores e coordenadores do colégio. Será que a semelhança com as eleições dos nossos representantes nas câmaras legislativas municipais, estaduais, deputados federais e senadores é pura coincidência? Ou os adultos já vieram das escolas com esse aprendizado?

Eu pergunto mais uma vez: será que nossas escolas não é um bom exemplo de como aprendemos a ser corruptos? Ou será apenas imaginação fértil de mais um professor tolo?

O pior, é que nossos alunos são os primeiros a exigir ética dos políticos e fazem as coisas, iguaizinhas aos mesmos. Agora, faz o seguinte, pegue esse texto e passe para alunos de qualquer escola e peça pra ele dar uma opinião sobre isso. Certamente, eles irão dizer que você é um calunioso, pois, nas nossas escolas não existe nada disso. É pura imaginação de um professor de escola pública.

Antônio Carlos Vieira -Professor de Geografia(SEED-SE)

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OBSERVAÇÃO: Este texto é uma reedição de 2007. Foi utilizado inicialmente em sala de aula e postado no Grupo Cidadania Brasil em 2008.

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